Alucinações e sonambulismo: veja os riscos do uso indevido do Zolpidem
Anvisa aumentou controle na prescrição do Zolpidem. Qualquer remédio com substância terá de ser prescrito com receita azul
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou maior controle na prescrição do medicamento zolpidem, usado no tratamento de insônia. A partir de 1º de agosto, torna-se obrigatória a prescrição de qualquer remédio à base de zolpidem por meio da Notificação de Receita B (cor azul), pois o medicamento consta na lista de substâncias psicotrópicas controladas no Brasil.
Esse tipo de receita exige que o profissional tenha cadastro prévio na vigilância sanitária. A Anvisa decidiu alterar a forma de prescrição após receber aumento de relatos de uso abusivo do medicamento.
“A medida foi adotada a partir do aumento de relatos de uso irregular e abusivo relacionados ao uso do zolpidem. A análise conduzida pela Anvisa demonstrou um crescimento no consumo dessa substância e a constatação do aumento nas ocorrências de eventos adversos relacionados ao seu uso. Foi possível ainda identificar que não há dados científicos que demonstrem que concentrações de até 10 mg do medicamento mereçam um critério regulatório diferenciado”, diz nota.
O que muda
De acordo com a agência reguladora, o zolpidem estava enquadrado na lista de psicotrópicos, que é mais restrita. No entanto, havia uma adendo (de número 4) que permitia a prescrição de medicamentos com até 10 mg de zolpidem pela receita branca em duas vias, mesma regra para os medicamentos da Lista de Substâncias Sujeitas a Controle Especial (C1) e que não exige cadastro do profissional na autoridade sanitária local.
Com as mudanças, o adendo será excluído e a receita azul passa a ser obrigatória para todos os medicamentos com zolpidem, independentemente da quantidade presente.
A Anvisa informa que a definição do prazo, para o início da nova norma, levou em conta tempo necessário para que os profissionais façam o cadastro na vigilância sanitária e os pacientes não tenham descontinuidade do tratamento.
Zolpidem
O remédio é usado para tratar a insônia de curta duração, quando há dificuldade em adormecer ou manter o sono. A utilização não deve ultrapassar de quatro semanas. A prorrogação só pode ser feita após avaliação médica, em razão do risco de abuso e dependência pelo paciente.
Alucinações e sonambulismo: veja os riscos do uso indevido do medicamento
O aumento significativo nas vendas de Zolpidem no Brasil durante a pandemia de Covid-19 trouxe à tona preocupações sobre os efeitos colaterais do medicamento, amplamente utilizado para combater a insônia. A jovem Manuela Belardi, de 26 anos, relata uma experiência perturbadora com o remédio quando, aos 15 anos, viu-se alucinando ao ponto de enxergar um tigre passando pela rua do condomínio onde estava. Esse é apenas um exemplo entre muitas “histórias de Zolpidem” que revelam comportamentos inusitados e potencialmente perigosos.
Manuela e sua amiga estavam deitadas conversando, quando sua amiga, confusa, perguntou: “Manu, você tá rindo ou tá chorando?”. Manuela decidiu levantar-se para tomar água e, ao chegar à cozinha, alucinou vendo um tigre pela janela. “Percebi que o Zolpidem não tinha batido muito bem. Estava alucinando”, conta Manuela.
Relatos como o de Manuela incluem desde a movimentação de móveis, envio de mensagens incoerentes, compras online absurdas até a preparação de refeições no meio da noite. Essas experiências, embora possam parecer engraçadas, são um indicativo sério do uso descontrolado do medicamento sem a devida orientação médica.
Crescimento nas Vendas e Uso Indevido
Durante a pandemia, quadros de ansiedade e depressão aumentaram, e com eles, a insônia tornou-se mais comum. A venda de Zolpidem no Brasil subiu de 13,1 milhões de caixas em 2018 para 21,9 milhões em 2022, um aumento de 67%, conforme dados da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono, alerta para a prescrição excessiva do medicamento. “O aumento no número de usuários foi significativo, mais pronunciado no Brasil em comparação com outros países. A falsa sensação de segurança, acreditando que não geraria dependência, levou ao aumento das prescrições”, afirmou à CNN. Além disso, a prescrição não monitorada facilitou a ocorrência de efeitos colaterais como sonambulismo, apagões de memória e alucinações.
O Efeito Rápido e os Riscos
Elton Kanomata, psiquiatra do Hospital Albert Einstein, explica que um dos motivos para o aumento no uso do Zolpidem é o seu efeito quase imediato em induzir o sono. “Para pessoas com insônia ocasional, o Zolpidem é útil. No entanto, para casos crônicos, o uso não deve exceder um mês devido ao risco de dependência”, adverte Kanomata.
O uso prolongado pode levar à resistência ao medicamento, fazendo com que pacientes tomem doses maiores por conta própria. Este uso indiscriminado aumenta a probabilidade de efeitos colaterais, que incluem sonambulismo, alucinações e amnésia.
Prevenindo Efeitos Colaterais
Para evitar tais efeitos, Kanomata recomenda que os pacientes preparem o ambiente para dormir antes de tomar o medicamento, assegurando luzes apagadas e um ambiente silencioso. “O Zolpidem é seguro quando bem indicado. Prescrever corretamente e seguir as orientações diminui substancialmente os riscos”, afirma.
Poyares enfatiza a necessidade de buscar ajuda médica ao notar aumento de tolerância ao medicamento ou efeitos colaterais frequentes. “Se a dose usual deixa de ser eficaz, é sinal de que o remédio precisa ser trocado. Existem outras opções de tratamento disponíveis”, conclui.
Conclusão
O aumento no uso de Zolpidem no Brasil requer maior vigilância e orientação médica para evitar efeitos colaterais perigosos. A experiência de Manuela e muitos outros usuários serve como um alerta para o uso responsável e monitorado do medicamento, visando garantir a segurança e eficácia no tratamento da insônia.
Fonte: Agência Brasil