População e prefeitura denunciam captação irregular de água pela Copasa em Barra Longa
A insegurança em relação à qualidade da água da Copasa tomou conta de Barra Longa (Mata). Moradores e prefeitura se juntaram em audiência da Comissão de Administração Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) para denunciar irregularidades na captação e falta de resposta às demandas, inclusive as oficiais.
Segundo relatos e laudos técnicos, a água é turva, tem cheiro, gosto e coliformes. E estaria adoecendo a população, o que amplia as dúvidas quanto a uma possível contaminação também por metais pesados. A reunião ocorreu nesta segunda-feira (27/5/24), a requerimento da deputada Beatriz Cerqueira (PT).
A deputada salientou o sofrimento da população desde 2015, quando foi atingida pelo rompimento de barragem de Fundão, em Mariana (Central). “É uma cidade entristecida. As pessoas perderam a alegria de viver porque perderam casas, os quintais das avós. E a violação de direitos prossegue”, afirmou.
A principal denúncia trazida à reunião foi sobre a mudança do ponto de captação de água pela Copasa sem nenhum comunicado às autoridades. Desde janeiro de 2003, a água é captada em um local atingido pelos rejeitos da barragem, sem outorga dos órgãos públicos e nem mesmo da administração local.
A coordenadora da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Barra Longa, Jaqueline Martins, contou que a captação era em um ponto mais alto, com outorga, mas foi transferida em função do rompimento de uma estrutura. A prefeitura teria ficado sabendo apenas no início deste ano, por meio de denúncia, e fez um boletim de ocorrência após visitar o local.
“A captação não é no Rio Doce, mas em um local impactado”, destacou Jaqueline. Segundo ela, um ofício teria sido enviado à Copasa em março, e na resposta, um mês depois, a empresa afirmou que aguardava a formalização de outorga. “Mas o pedido de outorga era de março, após o Boletim de Ocorrência”, salientou.
A coordenadora afirmou, ainda, que a Copasa está negando acesso do município ao Plano de Contingência e Emergência, onde está especificado como deve ser a ação municipal em caso de problemas no abastecimento. “Desde setembro de 2023 não temos acesso”, frisou.
Município nega outorga até esclarecimentos
A prefeitura de Barra Longa também recebeu o pedido de outorga da companhia, mas ele foi negado. “O prefeito se recusou a dar a autorização, até que tenhamos clareza do nível de contaminação por metais pesados”, reforçou Simone Maria da Silva, da Comissão de Atingidos de Barra Longa e da Câmara Técnica de Saúde que trata do rompimento da barragem de Fundão.
Simone citou o aumento dos casos de câncer na cidade, que poderiam estar relacionados à contaminação. “Tenho o cuidado de não comer nada que venha da área contaminada. E a Copasa, na surdina, oferta água contaminada há mais de um ano”, revoltou-se. Outro atingido, Rômulo Bonnes de Almeida, trouxe amostra da água barrenta e citou casos de alergias.
O deputado Leleco Pimentel (PT) destacou a turbidez da amostra. “Tenho certeza que ninguém daria isso a um filho ou a uma mãe”, afirmou. Ele, porém, fez a defesa de uma Copasa forte de qualidade, para que não seja privatizada.
Marcela Magalhães, da Vigilância em Saúde Ambiental de Barra Longa, afirmou que outras irregularidades foram constatadas após fiscalização na Estação de Tratamento da Copasa, como a exposição ao sol do estoque de produtos químicos. Ela também mostrou laudos que apontariam presença de coliformes totais na água e turbidez muito acima do limite permitido.
Assessores jurídicos da prefeitura cobraram a solução do problema e a reparação de danos. Clarissa Godinho Prates, assessora da coordenadoria da Regional da Bacia do Rio Doce do Ministério Público, acompanhou a reunião e se comprometeu a fazer todos os repasses ao promotor de justiça
Moradores reclamaram ainda que não tiveram o dano da água reconhecido pela Fundação Renova – encarregada das reparações – por falta de laudos e declarações da Copasa. Aumentos injustificados nas contas e falta de atendente no escritório também foram pontuados.
Copasa anuncia volta ao ponto original de captação
Como encaminhamento da audiência, uma reunião entre Copasa, prefeitura e atingidos foi agendada para o próximo dia 3 de junho, às 10 horas, na Câmara Municipal de Barra Longa. O superintendente da Unidade de Negócios Leste da Copasa, Albino Júnior Campos anunciou para julho a volta da captação ao ponto antigo, mais alto e sem impacto da barragem.
Segundo ele, em outubro de 2022, em função das chuvas, o canal de captação foi fechado por um carreamento de terra, vindo de um terreno que havia sido terraplanado para a instalação de uma antena de internet. A captação continua sendo no Ribeirão Mato Dentro, mas já na confluência com o Rio do Carmo, esse atingido pelo rompimento da barragem.
Albino enfatizou, porém, que mesmo a água captada diretamente no Rio Doce, em 150 municípios, é entregue com qualidade pela Copasa. De acordo com o superintendente, R$ 530 mil foram investidos pela empresa no ano passado para melhorarias no sistema em Barra Longa e construção de um barramento para impedir novos carreamentos de terra para o ponto de captação.
O vereador de Barra Longa Wagner Eduardo da Silva, contestou a informação. Segundo ele, o problema tem origem em uma “gambiarra” da Copasa. “A água vem canalizada por um trecho, mas depois corre no rego. Qualquer chuva vai assorear”, afirmou.
Ainda assim, segundo Albino, a outorga do atual ponto de captação está sendo solicitada, como uma alternativa, caso o canal seja assoreado mais uma vez. Melhorias no atendimento também foram anunciadas pelo representante da Copasa, como a presença de leituristas terceirizados.
Ele também se comprometeu a entregar, na reunião, resposta a todos os ofícios. Quanto a reclamações sobre valores de faturas, ele justificou que disse que houve um problema em uma válvula de controle de nível, que já foi corrigido em abril. Por isso, segundo Albino, as faturas serão revistas e corrigidas pela média dos meses anteriores ao problema.
Fonte: ALMG