Ao menos 120 milhões de pessoas tiveram dados acessados e vendidos para organizações criminosas
Operação em São Paulo mirou grupo que vazava dados e atuava como ‘call center do crime’
Uma operação deflagrada pela Polícia Civil de São Paulo nesta quinta-feira (14) desmantelou uma organização criminosa responsável pelo vazamento de dados pessoais de aproximadamente 120 milhões de brasileiros.
Segundo as investigações, o grupo atuava como um “call center do crime”, estruturando e comercializando informações sigilosas para diversos compradores, incluindo organizações criminosas e especialistas em golpes digitais.
A ação, realizada em parceria com a Polícia Civil do Paraná, cumpriu nove mandados de busca e apreensão em cidades paulistas como São Paulo, Campinas, Bauru, Taubaté e Praia Grande, além dos municípios de Londrina e Uraí, no Paraná. Sete integrantes do grupo foram identificados e responderão por crimes como associação criminosa, invasão de dispositivos informáticos e violação de segredo profissional.
Esquema de vazamento e comercialização de dados
De acordo com o delegado Everson Contelli, coordenador da Unidade de Inteligência da Polícia Civil, o grupo invadia bancos de dados de órgãos públicos, empresas de telefonia e bancos digitais. Entre as informações vazadas estavam senhas, saldos bancários e dados de servidores de tribunais e instituições governamentais, como as Forças Armadas.
Um dos episódios mais graves envolveu o vazamento de dados de 170 mil servidores do governo do Rio de Janeiro e de 130 mil nomes registrados em uma planilha intitulada “Gov SP”. A quadrilha oferecia os dados estruturados para venda a partir de demandas específicas, com valores que variavam conforme a quantidade e a qualidade das informações. Os pagamentos eram realizados por meio de Pix, garantindo agilidade e anonimato às transações.
Contelli destacou que boa parte dos vazamentos era facilitada por funcionários de empresas ou servidores públicos, que acessavam os sistemas internamente e forneciam os dados ao grupo. “A maioria dessas informações não vem de invasões, mas de pessoas que trabalham com a gestão desses dados”, afirmou o delegado.
Origem das investigações e impactos
As investigações tiveram início em outubro do ano passado, após um vazamento de dados do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP). Durante a apuração, a polícia descobriu que o grupo também explorava informações de outros tribunais e órgãos públicos. Além do uso em golpes virtuais, os dados eram empregados para operações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
O delegado Contelli ressaltou a gravidade das ações, que violam a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). “O vazamento de dados é uma afronta à integridade digital e um risco significativo à privacidade dos cidadãos. Precisamos pensar em medidas punitivas mais específicas para esse tipo de crime”, defendeu.
Apreensões e próximos passos
Durante a operação, a polícia recolheu diversos materiais utilizados pela quadrilha, que agora serão submetidos à perícia. A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que os responsáveis pelos vazamentos, assim como os compradores dos dados, estão sendo identificados. Algumas empresas envolvidas já foram notificadas.
A investigação segue em andamento, com o objetivo de responsabilizar todos os envolvidos e reforçar a proteção de dados pessoais no país.
Fonte: Guia Muriaé, com informações do Jornal O Globo