Coluna do Carlos Cerqueira – Fitoterapia: das origens aos tempos atuais

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Fitoterapia, palavra derivada das terminologias gregas phyton (planta) e therapeia (tratamento), foi cunhada, primeiramente, pelo médico francês Henri Leclerc (1870-1955), mas o tratamento com plantas medicinais é tão antigo quanto o próprio homem, existindo registros, no sul da Ásia, de seu uso, pelo homem de Neanderthal, à quase 60.000 mil anos. Nas grandes sociedades antigas, grega, chinesa, egípcia, indiana, romana, etc, também são encontrados inúmeros relatos. As literaturas mais antigas sobre o assunto, que se têm conhecimento derivam da China, com o livro Clássico do Imperador Amarelo (Nei Jing) e, particularmente da Índia, com o Ayurvêda, datando aproximadamente 3.000 a.C.




No Ocidente, há citações na obra Corpus Hippocraticum, por Hipócrates (460 a.C.), considerado o pai da medicina, além de outros famosos médicos da história, como Galeno (129-199 d.C.), Avicena (980-1037 d.C.) e Paraceulsus (1493-1541 d.C). Este último alertava estar na dose, o que pode diferenciar, um remédio de um veneno.

Aqui no Brasil, devemos ressaltar a tradição indígena, a qual deixou um grande legado, sobre os benefícios gerados pela flora nacional. Dentre outros relatos da época, temos o de padre Anchieta, em 1560, sobre uma erva boa, que era usada pelos nativos, contra indigestões, nevralgias, doenças nervosas e reumatismos. Hoje sabe-se que se tratava da hortelã-pimenta.




Este perpétuo vínculo, homem – plantas medicinais, influenciou e determinou o rumo da história da humanidade, não só na área da saúde como também na economia, política, social, etc. Entretanto, no séc. XIX, com a consolidação da revolução industrial, o uso terapêutico das plantas foi considerado como algo empírico, sem base científica, enfim, ultrapassado. No seu lugar surgiram os medicamentos industrializados, isolaram-se os princípios ativos (substancia com efeito medicinal) dos vegetais e por fim os sintetizaram em laboratório.

Ultimamente, porém, o surgimento e a incapacidade de tratamento de muitas doenças, a necessidade de medicamentos mais baratos e menos agressivos ao organismo, aliados à divulgação da fitoterapia por movimentos populares, gerou uma preocupação por parte dos cientistas, em estudar e comprovar o uso de várias plantas, chegando ao ponto da Organização Mundial de Saúde, não apenas reconhecer o valor delas, como orientar e estimular o uso, nos sistemas oficiais de saúde, dos seus Estados-membros.




De acordo com dados do Ministério da Saúde, somente entre 2004 à 2008, houve um aumento de 300% na quantidade de municípios que inseriram a fitoterapia em hospitais e postos de saúde, aumento este que foi intensificado com a criação da PNPIC (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares) em 2006.

Essa tendência na busca de recursos vegetais, viáveis e eficazes, para melhorar a saúde pública, se revela, também, nos órgãos educacionais federais, a exemplo do projeto Farmácia Viva, iniciado na Faculdade Federal do Ceará, onde o saudoso professor Francisco José de Abreu Matos criou uma horta comunitária para transformar plantas em fitoterápicos ofertados à população. “A experiência tem mostrado que é possível controlar 80% dos males, da comunidade, com fitomedicamentos preparados com apenas 15 espécies do elenco selecionado pelo Projeto Farmácias Vivas”, disse uma vez o professor. Esse retorno da fitoterapia é um fato irreversível, e agora, aliando sabedoria popular ao conhecimento científico, proporciona um uso racional e eficaz destas, que vêm nos acompanhando, desde o começo da humanidade.




Autor: Carlos Cerqueira Magalhães – Farmacêutico, M.e em Ciências Farmacêuticas (Produtos Naturais Bioativos) pela UFJF




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