Exame capaz de diagnosticar dengue em 20 minutos pode chegar ao SUS neste primeiro semestre
A nova tecnologia de Diagnóstico Rápido da Dengue poderá reduzir o tempo de análise de amostras para 20 minutos e está sendo desenvolvida pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Fundação Centro de Hematologia e Hemoterapia de Minas Gerais (Hemominas). O protótipo está em fase de testes e inicialmente deve ser utilizado na Funed, que recebe anualmente cinco mil amostras de pacientes mineiros para exames laboratoriais. Se validado, o Diagnóstico Rápido da Dengue deverá ser disponibilizado em toda a rede do Sistema Único de Saúde (SUS), em lâminas descartáveis, na forma de pacotes com 25 ou 100 testes, ainda no primeiro semestre deste ano.
O kit foi criado pelas pesquisadoras Alzira Batista Cecílio (Funed) e Erna Kroon (UFMG) e pode agilizar o tratamento contra a doença. O método traz uma pequena fita que, em contato com a amostra do paciente, se contaminado, reage à presença do vírus e muda de cor. “Com a essa nova técnica, o médico poderá tomar a decisão correta sobre o tratamento e ganhar tempo na ação contra a dengue”, acredita Cecílio. Para a analista da Unidade de Inovação e Tecnologia do Sebrae-MG, Andrea Furtado, a nova tecnologia também vai contribuir para economia nos sistemas de saúde mundiais. “Sem o diagnóstico rápido, atualmente, há um prejuízo de R$ 3,5 bilhões nos sistemas de saúde do mundo todo”, afirma Andrea.
O novo kit de Diagnóstico Rápido da Dengue, que utiliza uma nova técnica conhecida como imunocromatografia, faz lembrar os aparelhos de monitoramento de glicemia, usado no diagnóstico de diabetes. A diferença é que o sangue coletado do paciente não é aplicado diretamente no kit: o teste é realizado com o soro separado das células sanguíneas e, por isso, a metodologia ainda exigirá a coleta de sangue do paciente. Para análise, o soro é colocado sobre a membrana – que integra a parte interna do suporte plástico que compõe o kit – juntamente com o diluente. A reação que pode indicar a presença de proteínas do vírus da dengue ou anticorpos produzidos, ocorre em 20 minutos.
Atualmente, os testes de diagnóstico da dengue são realizados a partir dos métodos MacELISA e ELISA, que se diferenciam principalmente pelo processo e tempo decorrido entre a análise do soro e o diagnóstico.
“No primeiro método, temos que desenvolver os reagentes, montar toda a plataforma de análise do soro em laboratório, procedimento que demanda três dias de trabalho”, explica o chefe do Serviço de Virologia e Riquetsioses, Glauco de Carvalho Pereira. Já o ELISA, segundo Glauco, por se constituir em um kit pronto garante a economia de tempo, reduzindo todo o processo de análise do soro para aproximadamente cinco horas. A metodologia MacELISA é considerada padrão ouro pelo Ministério da Saúde, sendo a técnica mais sensível utilizada atualmente, com maior índice de assertividade.
Casos notificados
Em 2010, com a epidemia de dengue identificada em diversos estados do país, Minas Gerais chegou a contabilizar 261.945 notificações de suspeita de infecção do vírus. Neste período, a Funed realizou 22.000 análises de amostras. Em 2011, houve tanto queda no número de notificações da doença como no volume de análises realizadas pela instituição, tendo sido verificadas 5.000 amostras. “Estas amostras foram testadas em uma ou ambas as metodologias (MacELISA e ELISA), muitas vezes em duplicata”, destaca a farmacêutica bioquímica Maira Alves Pereira, do Laboratório de Dengue e Febre Amarela da Funed.
Segundo Maíra, as analises feitas na Funed têm como objetivo detectar se há epidemia de dengue em certa região e contribuir para o trabalho de Vigilância Epidemiológica do Estado. “Por este motivo, o número de análises não precisa ser proporcional ao volume de notificações. Os testes laboratoriais são feitos para identificar a epidemia e auxiliar o governo nas ações a serem tomadas, mas o médico, com exames clínicos, é capaz de confirmar o diagnóstico e pode indicar o tratamento adequado ao paciente antes mesmo do resultado laboratorial”, explica. O teste rápido, nesses casos, seria também uma medida complementar para o diagnóstico clínico, realizado pelo médico.
O projeto para desenvolvimento do kit Diagnóstico Rápido da Dengue conta com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa de Minas Gerais (Fapemig).
Tecnologia abrangente
Segundo Alzira Batista Cecílio, a partir do desenvolvimento da plataforma tecnológica do teste rápido para Dengue, futuramente há a possibilidade de se utilizar a mesma base para a elaboração de kits que contemplem outras doenças que tangem à saúde pública, como o rotavírus, herpesvírus e parasitas que serão definidos após a validação da tecnologia.
A doença
Segundo informações do Ministério da Saúde, a dengue é um dos principais problemas de saúde pública do mundo. Normalmente, os sintomas da doença se manifestam após três dias da picada do mosquito. Os indícios de infecção podem apontar duas formas de dengue: clássica e hemorrágica, e a segunda pode levar a morte no período de 24 horas.
Os sintomas da dengue clássica são caracterizados por febre alta com início súbito, forte dor de cabeça, dor atrás dos olhos – que piora com o movimento dos mesmos, perda do paladar e apetite, náuseas e vômitos, tonturas, extremo cansaço, moleza e dor no corpo, muitas dores nos ossos e articulações. Além de manchas e erupções na pele semelhantes ao sarampo, principalmente no tórax e membros superiores.
A princípio, a dengue hemorrágica apresenta os mesmos sintomas que a clássica, no entanto, após a febre, começam a se manifestar os sinais mais graves, distinguidos pelas dores abdominais fortes e contínuas, vômitos persistentes, pele pálida, fria e úmida, sangramento pelo nariz, boca e gengivas, manchas vermelhas na pele, sonolência, agitação e confusão mental, sede excessiva e boca seca, pulso rápido e fraco, dificuldade respiratória e perda de consciência.
Fonte: Agência Minas