Iniciativa no SUS possibilita visita de bebês pelos irmãos em UTI Neonatal
Kauê Lucas, de 11 anos, estava ansioso para conhecer o irmão caçula Salomão, que tinha acabado de nascer. Mas o bebê nasceu com 30 semanas de gestação, pesando apenas 800 gramas. Por isso, foi necessário encaminhá-lo para a UTI Neonatal da Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac), em Fortaleza, já que a criança precisava de cuidados especiais por conta do nascimento prematuro.
Dois meses depois que Salomão nasceu, a ansiedade de conhecer o irmãozinho pessoalmente acabou para Kauê. Um projeto implementado pela unidade de saúde chamado “Visita dos irmãos” possibilitou o encontro. “A ideia principal que norteia estas visitas é que um bebê sozinho não existe. Ele surge acompanhado de sua mãe, de seu pai, de seus irmãos e de sua historia familiar. Zelar pela preservação dos vínculos afetivos familiares por meio de um acolhimento à família, é cuidar da saúde de todos os integrantes desse grupo e, portanto, garantir para o bebê um espaço mais saudável, capaz de colaborar para o seu desenvolvimento”, afirma Socorro Leonácio, que junto com outra psicóloga, Natalie Brito, formam a equipe de responsáveis pela iniciativa.
A cada sexta-feira, três bebês internados recebem os irmãos. A escolha das famílias que serão contempladas na semana é feita às quartas-feiras, num grupo terapêutico das mães que estão com os filhos na UTI Neo. Nesse grupo é feita uma triagem para saber quais casos, com maior necessidade, receberão a visita. Natalie Brito explica que a vontade de promover uma ação que humanizasse o atendimento oferecido no Hospital é antiga, mas só foi viável no início deste mês. “A gente viu a necessidade das próprias mães da Neo que sinalizavam o desejo de que seu outro filho visse o irmãozinho, porque a criança que fica em casa não entende esse irmão imaginário, que não parece real para ele”, explica Natalie Brito.
Segundo a mãe de Kauê e Salomão, Elisabete Custódio, agora o irmão vai entender melhor porque ela vai a Maternidade todos os dias. “Agora, quando eu chegar em casa contando como o Salomão está melhorando, ele já terá uma imagem na cabeça”, ressalta. Para a psicóloga responsável pela iniciativa, já é possível, mesmo tão cedo, mensurar os resultados da iniciativa. “A ação traz alivio para ansiedade da família, compreensão da rotina diária das mães para os filhos e da ausência delas no seu dia a dia, além de deixar a o filho seguro quanto ao seu lugar e papel na família”, explica.
Cuidados especiais
Quando os irmãos chegam, participam de um pequeno grupo de preparação. As enfermeiras Izélia Gomes e Roberta Bandeira prepararam um bonequinho que simula o bebê com todos os dispositivos que possivelmente seu irmão esteja usando na UTI, como sondas, acessos venosos, curativos… Para o irmão, é então explicado como a criança está lá dentro. Observa-se suas expectativas, se ele tem alguma fantasia (por exemplo, se ele imagina um bebê muito diferente da realidade) e as psicólogas vão trabalhando essas fantasias com o irmão.
A visita é guiada. “O irmão entra conosco, todo paramentado, com os equipamentos de proteção individual. Ensinamos a higienizar as mãos, dizemos o que ele pode ou não fazer lá dentro e pedimos para ele conversar com o bebê. A última fase da visita é uma conversa, na qual eles nos contam como se sentem”, afirma Natalie Brito.
Acompanhamento integral
As mães, pais ou o responsável legal de recém-nascidos que esteja na UTI Neonatal poderão ficar perto dos bebês, 24h por dia, durante todo o período que a criança estiver na maternidade. Essa garantia está na Portaria 1.153/2014 que possibilita acompanhantes em qualquer área do hospital, inclusive na UTI, tanto na Rede Pública quanto na Privada integralmente. Antes, a legislação brasileira dava acesso livre aos pais ou responsáveis nas maternidades apenas em horários específicos.
Para os acompanhantes de bebês em unidades particulares conseguirem o acesso, é importante se certificarem que o estabelecimento onde o parto irá acontecer possui um selo de Hospital Amigo da Criança. A marca faz parte de um projeto do Ministério da Saúde em parceria com Unicef e certifica que nesses locais há assistência humanizada e qualificada às mães e aos bebês.
Fonte: Gabrielle Kopko / Blog da Saúde, com informações do EBSERH