Operação Carne Fraca: frigoríficos chegaram a usar produtos cancerígenos
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta sexta-feira (17) a operação Carne Fraca, que investiga a venda ilegal de carnes no país. Foram cumpridos 38 mandados de prisão, deste total 34 tinham como alvo funcionários públicos. Fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) são investigados por envolvimento em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.
Segundo a PF, os investigados chegavam a usar produtos químicos para “maquiar” carne vencida, injetavam água para aumentar o peso dos produtos, usavam cabeça de porco em meio a linguiça, misturavam papelão em meio a carne moída e, em alguns casos, foi constatada ainda falta de proteína na carne. Em alguns casos, como do frigorífico Peccin, a operação da PF denuncia “armazenamento em temperaturas absolutamente inadequadas, aproveitamento de partes do corpo de animais proibidas pela legislação, utilização de produtos químicos cancerígenos, produção de derivados com o uso de carnes contaminadas por bactérias e, até, putrefatas”.
Este é um trecho de uma das gravações divulgadas pela PF:
IDAIR – Você ligou?
NAIR – Eu, sim eu liguei. Sabe aquele de cima lá, de Xanxerê?
IDAIR – É.
NAIR – Ele quer te mandar 2.000 quilos de carne de cabeça. Conhece carne de cabeça?
IDAIR – É de cabeça de porco, sei o que que é. E daí?
NAIR – Ele vendia a 5, mas daí ele deixa a 4,80 para você conhecer, para fechar carga.
IDAIR – Tá bom, mas vamos usar no que?
NAIR – Não sei.
IDAIR – Aí que vem a pergunta né? Vamo usar na calabresa, mas aí, é massa fina é? A
calabresa já está saturada de massa fina, é pura massa fina.
NAIR – Tá.
IDAIR – Vamos botar no que?
NAIR – Não vamos pegar então?
IDAIR – Ah, manda vir 2.000 quilos e botamos na linguiça ali, frescal, moída fina.
NAIR – Na linguiça?
IDAIR – Mas é proibido usar carne de cabeça na linguiça…
NAIR – Tá, seria só 2.000 quilos para fechar a carga. Depois da outra vez dá para pegar um
pouco de toucinho, mas por enquanto ainda tem toucinho (ininteligível).
IDAIR – O toucinho, primeira coisa, tem que ver que tipo de toucinho que ele tem.
Durante a operação, a PF chegou a prender executivos de grandes frigoríficos como o gerente de Relações Institucionais e Governamentais da BRF Brasil (Sadia e Perdigão), Roney Nogueira dos Santos; o diretor da BRF André Luiz Baldissera; e o funcionário da empresa da JBS (Friboi, Seara e Swift), Flávio Evers Cassou.
Além dos mandados de prisão, também foram cumpridos 77 mandados de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão. As ordens judiciais foram cumpridas em São Paulo, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Goiás.
Fonte: Guia Muriaé, com informações do G1 e Extra