Coluna do Carlos Cerqueira – A mirra do menino Jesus e outras mirras

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É bastante comum encontrar a falsa-mirra ou pau-de-incenso (Tetradenia riparia) nas casas da nossa região, utilizada inclusive como planta ornamental. Muitos acreditam que é a mesma citada na famosa oferenda dos reis magos ao menino Jesus, mas não tem nenhuma relação botânica com ela.

Nativa da África, onde é usada por tribos contra malária e dengue, a falsa-mirra se adaptou muito bem em nosso país, apesar de crescer no máximo 3 metros aqui, não alcançando o porte que tem no seu país de origem. Uma característica marcante são suas folhas pequenas, largas e ovais com contornos dentados.




Possui uso medicinal popular como enxaguatório bucal, no tratamento de problemas respiratórios, estomacais, febres e diarréias, sendo atribuída a ela propriedades vermífuga e antiséptica. Esta última encontrou comprovação científica em testes realizados pela Universidade de São Paulo (USP) onde ocorreu efeito antibacteriano em relação as bactérias Escherichia coli e Staphylococcus aureus, em todas as concentrações usadas.

Temos ainda o breu-branco (Protium heptaphyllum), árvore tendo 10 a 20 metros de altura, com arquivos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) registrando sua utilização pelo padre José de Anchieta, na primeira missa do Brasil, chamando-a de mirra-brasileira. É comumente encontrada na região amazônica e cerrado, e em menor quantidade, na Bahia, Minas Gerais e Goiás.




Aromática em todas as suas partes, do seu tronco povos nativos extraem uma seiva branca e brilhante, de onde deriva o seu nome popular, seiva esta, utilizada a séculos nos rituais religiosos e terapêuticos destes povos.

Uma classe de seus princípios ativos, os triterpenos exibiram atividade antipruriginosa, analgésica e hepatoprotetora, reduzindo as lesões hepáticas nos camundongos, em testes na Universidade Federal do Ceará (UFC).




Usado popularmente em dores reumáticas e musculares, nas infecções das vias respiratórias e picadas de insetos, seu óleo essencial incolor possui propriedades anti-inflamatórias relacionadas à diminuição de óxido nítrico. Em tese de mestrado na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) demonstrou-se sua capacidade de reduzir ou prevenir estresse oxidativo, ou seja, exercer atividade antioxidante. A maior indústria de cosméticos do país utiliza o extrato da planta numa das linhas de produtos comercializadas, o Conselho de Gestão do Patrimônio Genético autoriza sua exploração na floresta Amazônica, exigindo uma forma sustentável e com retorno econômico para as comunidades locais.

Já a relatada nos evangelhos é chamada cientificamente de Commiphora myrrha (do grego “kommi”= “goma” e “phoros” = “portador”), a origem do nome provavelmente se deve à goma ou resina, extraída por incisões na casca desta planta, formando grânulos de coloração amarela-avermelhada depois de seca. É uma árvore espinhosa de até 5 metros de altura, nativa da África mas bastante adaptada no Oriente Médio.




Este vegetal sempre esteve ligado à questões espirituais, antes de Cristo já haviam registros do seu uso pelos egípcios em cultos religiosos e também como ingrediente básico para o embalsamento de cadáveres, as famosas múmias, isso devido à sua ação antifúngica. No século XV d.C era usada nos funerais e cremações e ainda hoje sua resina, na forma de incenso, faz parte de rituais não somente cristãos, mas de outras religiões.

Na aromaterapia é de uso comum e corrente, o seu óleo essencial para diminuir a ansiedade e alcançar estados contemplativos. Na cosmética é considerado rejuvenescedor e hidratante para peles secas, sendo ainda um bom fixador, por isso com grande procura pela indústria de perfumes.




Devido às suas propriedades anti-inflamatórias, é usada no tratamento de problemas respiratórios, com indícios de possuir atividade imunoestimulante na elevação dos leucócitos, além de haver registros do uso popular no tratamento de psoríase e hipotireoidismo. Suas atividades antimicrobianas e cicatrizantes fazem dela uma ótima alternativa natural de enxaguatório bucal.

Testes realizados pela Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul (UEMS) confirmaram uma elevada atividade antioxidante, cerca de 90% acima da substância padrão usada para comparação.




Além de ser espinhosa, o nome mirra deriva do aramaico “murr”, que significa amargo, talvez escolhida pelos reis magos, justamente para simbolizar os momentos de sacrifício que o Cristo Jesus passaria por amor à humanidade adormecida, plantando na alma dos homens, a centelha de um despertar….

Autor: Carlos Cerqueira Magalhães – Farmacêutico, M.e em Ciências Farmacêuticas (Produtos Naturais Bioativos) pela UFJF




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4 Comentários

  1. Tenho uma tetradenia riparia e gostaria de fazer óleo ou algum extrato dela, não achei nada especifico a respeito, nem sobre como fazer incenso com ela. Obrigada.

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