Coluna da Seliane Ventura – Síndrome de Tourette: o que é isso?
Constantemente ouvimos falar de casos de Bullying envolvendo crianças e porque não, adultos. Acontece principalmente por se tratar de diferenças. Pessoas diferentes atraem olhares diferentes, o que é totalmente desnecessário, pra não dizer cruel.
Mas hoje não vim aqui tratar de Bullying, mas de uma síndrome que atrai muitas piadas, brincadeiras sem graça, por ser considerado por alguns como um comportamento bizarro, mas é um adoecimento e traz muito sofrimento ao paciente, é a Síndrome de Tourette ou doença de Gilles de la Tourette.
O que seria isso afinal?
A Síndrome de Tourette é um tipo de transtorno neurológico caracterizado por tiques motores múltiplos e um ou mais tiques vocais em qualquer momento do distúrbio, não necessariamente simultâneos.
A família deve estar atenta a qualquer manifestação diferente de seus filhos, observarem para saber se realmente são só tiques causados por imitação, por exemplo, ou por alguma ansiedade, ou mania, ou se realmente não é algo mais severo como a Síndrome de Tourette.
Vejam bem, disse ficar atentos, não paranoicos. Mas observar o dia a dia das crianças é importante. É uma síndrome que percorre todo o desenvolvimento, incluindo a vida adulta.
O DSM-IV (Diagnostic and Statiscal Manual, 4° edição) apresenta alguns critérios para o diagnóstico, mas somente um especialista pode fazê-lo. Aos familiares, cabe observar e procurar ajuda especializada. Para ser diagnosticado o paciente deve apresentar:
1) Múltiplos tiques motores e um ou mais tiques vocais presentes em algum momento durante a doença, embora não necessariamente ao mesmo tempo;
2) Os tiques ocorrem muitas vezes ao dia (geralmente em ataques) quase todos os dias ou intermitentemente durante um período de mais de 1ano, sendo que durante este período jamais houve uma fase livre de tiques superior a 3 meses consecutivos;
3) A perturbação causa acentuado sofrimento ou prejuízo significativo no funcionamento social, ocupacional ou outras áreas da vida do sujeito;
4) O início dá-se antes dos 18 anos de idade;
5) A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou a uma condição geral (por ex. doença de Huntington).
Vou dar-lhes alguns exemplos de tiques, que são movimentos abruptos, rápidos ou lentos, repetidos e sem propósito, involuntários. Podem ser tiques motores ou vocais. Ressalto, são involuntários.
Exemplos dos mais simples aos mais complexos: Piscamento dos olhos, caretas faciais, movimentos de torção do nariz e boca, estalar a mandíbula, trincar os dentes, levantar dos ombros, movimentos dos dedos das mãos, chutes, tensão abdominal ou de outras partes do corpo, sacudir a cabeça, pescoço, ou outras partes do corpo; gestos faciais, estiramento da língua, gestos das mãos, bater palmas, atirar ou jogar, empurrar, tocar a face, pular, bater o pé, agachar-se, saltitar, dobrar-se, rodopiar ou rodar ao andar, girar, retorcer-se, desvios oculares, lamber as mãos, dedos ou objetos, tocar, coçar a garganta, fungar, cuspir, estalar a língua ou a mandíbula, cacarejar, roncar, chiar, latir, apitar, gritar, grunhir, gemer, uivar, assobiar, zumbir, sorver e inúmeros outros sons.
Verificados os sintomas e se esses se mantiverem por muito tempo, procurem um médico e ajuda psicológica. O tratamento de controle consiste em uso de medicamentos, psicoterapia, acompanhamento com fonoaudiólogo, acompanhamento pedagógico. Não podemos esquecer-nos de orientação psicopedagógica para a família.
Um exemplo, segundo a mídia, de um portador da síndrome é o goleiro Tim Howard (foto), hoje com 35 anos, que jogou nos Estados Unidos na Copa do Mundo 2014. Históricos dizem que Howard foi diagnosticado entre os 10/11 anos de idade e até os 15 anos os tiques se manifestavam de forma intensa. Atualmente, a mídia relatou que os sintomas mais evidentes, no jogador, são gagueira, piscadas frequentes e contrações na região do rosto. É um exemplo de que com o diagnostico preciso e tratamento adequado pode-se ter qualidade de vida.
É um transtorno invasivo, que traz sofrimento severo ao paciente. Esse necessita além do tratamento adequado, de amor e compreensão, sem falar de respeito, não só dos familiares e amigos, mas da sociedade em geral.
Como disse, temos que ter cautela para não taxar as pessoas com adoecimentos, mas também não devemos ignorar os sinais, se esses forem presentes e contínuos.
Iniciar o tratamento o quanto antes é trazer qualidade de vida ao paciente, como no exemplo citado.
Autora: Seliane Ventura – Psicóloga CRP 04/40269 – Psicóloga Clínica e Organizacional, com extensão em Psicologia Hospitalar pela Fundação de Apoio ao Hospital Universitário de Juiz de Fora