Conheça a história do bairro Aeroporto de Muriaé

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Foto: Guia Muriaé
Com o objetivo registrar a história do bairro Aeroporto de Muriaé, foi proposto, uma parceria com o Movimento Pró Cultura, a realização de uma pesquisa que possibilitasse oferecer dados históricos sobre as origens do lugar habitado por milhares de pessoas. A saga de um povo contida na memória e contada pelos seus protagonistas, fez dessa pesquisa, um estudo instigante e necessário. Como procedimento metodológico inicial, foi realizada uma relação de moradores mais antigos, que poderiam ser entrevistados. Posteriormente, foram feitos os contatos e fprontamente atrendidos pelos colaboradores. Com isso, foram coletadas informações que serviram de fundamentação para o resultado final do trabalho que apresentamos agora.




Como instrumentos de pesquisa, usamos questionários que foram respondidos de forma espontânea. Usamos, ainda, gravador para registrar algumas dessas entrevistas. As atas da Associação de Moradores do bairro Aeroporto foram usadas como fontes documentais. E foram, ainda, digitalizadas fotografias antigas do bairro, que estão a disposição nos arquivos do Movimento Pró Cultura.

A pesquisa durou aproximadamente três meses e, teve caráter cientifico com o interesse de valorizar a história e cultura de um bairro, formado por pessoas simples, que muitas vezes são discriminadas por morar em um bairro considerado pobre e de periferia.




Características geográficas

A pesquisa foi desenvolvida no município de Muriaé-MG, uma cidade de aproximadamente 96.000 habitantes, sendo 51,49% do sexo feminino e 48,51% do sexo masculino. O colégio eleitoral possui 67.860 eleitores. Situada na Zona da Mata Mineira, á 350 Km de Belo Horizonte, a cidade é pólo regional no setor de confecções e atrai turistas que procuram a Central da Pronta Entrega das Fábricas para comprar produtos a preço mais baixo. O desenvolvimento desse setor, coloca o Município, entre os principais produtores da indústria de confecções do estado de Minas Gerais, inclusive contando com um consórcio de exportação, voltado para países do Mercosul. Além disso, a cidade destaca-se no cenário nacional com indústrias de capas para poltronas de veículos automotores, urnas funerárias e aglomerados, produção vendida para outros estados e exterior




A cidade se destaca no cenário estadual por ser entroncamento rodoviário de três importantes rodovias que dão acesso ao Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Bahía. É pólo produtor do setor agropecuário, se destacando na pecuária leiteira, que abastece laticínios do município e da região. Destaca-se no setor de piscicultura, sendo o maior produtor de peixes ornamentais do estado e um dos maiores do país. Na piscicultura de corte, possui aqüiculturas que produzem milhões de alevinos que são comercializado por todo o país.

A rede escolar do município, conta com 92 escolas, sendo 88 de ensino fundamental, e 7 de ensino médio, 16 creches, 01 escola de ensino especial e uma de suplência. Ainda no campo educacional, é importante destacar a organização da educação. O município possui o Sistema Municipal de Educação, que foi instituído em 2002, pela Secretaria Municipal de Educação por meio da criação do Conselho Municipal da Educação. Na cidade, existe ainda, a sede da 23ª Superintendência Regional de Ensino, que gerencia o desenvolvimento e atuação das escolas pertencentes ao Sistema Estadual de Ensino, assessorando ainda, a educação de 14 municípios que fazem parte da sua jurisdição.




O bairro Aeroporto

Localizado na margem esquerda da Rodovia Rio Bahia (Br 116), O bairro Aeroporto é um dos locais mais populosos da cidade de Muriaé. Sendo formado por milhares de famílias, que vieram dos mais variados lugares da região, é um bairro constituído de gente trabalhadora que habita em casas que compõem as inúmeras ruas, vielas e becos do bairro.




Faz divisas com o Bairro São José, Napoleão, Barra, Dornelas e Cardoso de Melo. É um bairro que é considerado “morro” e, grande parte de seus moradores se encontram na parte mais alta de onde se tem a vista privilegiada da cidade. As casas são de construção em alvenaria sem luxo ou fachadas incrementadas.

Atualmente o bairro conta com 18 ruas, sendo elas: Jose Rui Barbosa, Jose Olegário, Mario Zidone, Mário Serenário, Olinda Gardone, Manoel Correa do Prado, Santos Dumont, Jose Pedrosa, Pedro Minarini, Jose Thomas, Antônio Ramos, Benedito Videira, Vila Cavalhier, Lica Muglia, Travessa santos Dumont, Bárbara de Andrade, Valdomiro Inácio, Sebastião Jósino Costa.




O bairro Aeroporto, é servido por dois Postos de saúde, sendo um localizado na parte alta á Rua Santos Dumont, e outro na parte baixa localizado á Vila Cavalhier de nome Dr Clovis de Aquino, inaugurado no dia 31 de agosto de 1986. O bairro possui educação fundamental que é oferecido na chamada de Escola Municipal Prof Stella Fidellis, fundada em 02 de outubro de 1992. A Escola atende os alunos do bairro e vizinhança e possui uma creche em anexo que atende dezenas de crianças. Possui ainda, o CRAS – Centro de Referência em Assistência Social que atende a população mais necessitada. O transporte urbano é efetuado pela Empresa Coletivos Muriaeense, que mantém uma linha diária com horários permanentes de 40 em 40 minutos.

No campo religioso, o bairro possui uma grande variedade de Igrejas evangélicas pentecostais das mais variadas denominações, dentre elas destacamos; Assembléia de Deus, Maranata, Deus é Amor. Conta ainda com Três, Comunidades Católica chamadas de : Comunidade Santo Antonio com Celebrações ás sextas e domingos, Comunidade Nossa Senhora do Carmo, situada na Vila Cavalhier e A Comunidade Santa Edwiges localizada próxima a Escola Stella Fidellis.




O bairro Aeroporto possui uma Associação de Moradores, que representa os anseios de seus moradores por meio de reuniões periódicas de desenvolvimento e planejamento de ações. No Aeroporto existe, ainda, a atuação de uma ONG. denominada Movimento Pró Cultura que desenvolve ações de incentivo a cultura por meio de uma Biblioteca Comunitária e um Centro Comunitário, onde ocorrem aulas de dança, teatro, violão.

A Chácara Candão




No ano de 1847, chegou ao Brasil, juntamente com milhares de imigrantes, oriunda da Itália uma família que seria fundamental para o surgimento do bairro Aeroporto. O Patriarca desta família se chamava senhor Antonio Muglia e, entre seus muitos filhos, existia um de 9 anos que se chamava Pedro Muglia. O pequeno Pedro cresceu se tornou um lavrador e em Mirai, se casou com a senhora Lica Muglia por quem era apaixonado. Após o casamento o jovem casal se mudou para Muriaé, onde comprou com suas economias, a denominada Chácara Candão, nesta chácara teve 9 filhos. Tal chácara se localizava próxima a ponte de madeira na entrada de Muriaé, a sede da chácara era também próxima ao encontro dos rios Preto e Muriaé.

Na época, a chácara Candão possuía uma grande área de pastagens, muitas arvores frutíferas e também uma área de árvores nativas, dentre as quais se destacava um Pé de Papagaio que mais tarde, iria dar nome ao bairro. senhor Pedro Muglia, usava das pastagens para criar animais além de, alugar pasto para os fazendeiros que vinham do meio rural para negociar café no centro da cidade.




Morro do Pedro Muglia

Com o passar do tempo, principalmente entre as décadas de 30 e 50, a atividade cafeeira que era a base econômica da região de Muriaé, entra em decadência em decorrência da queda de preço do produto no mercado internacional. Tal situação agrária, levou os grandes proprietários de terras dispensarem grande parte de seus empregados e meeiros. Tal situação ocasionou um movimento migratório em direção ás cidades pólos. Muriaé, se tornou destino de milhares de pessoas que buscavam ocupação, já que em seus lugares de origem já não havia como trabalhar. Este período coincide com a inauguração da rio Bahia, que foi um marco para o desenvolvimento regional e fator de atração para as populações das cidades vizinhas.

No período citado acima, o senhor Pedro Muglia colocou a venda lotes de sua chácara, dando inicio a um processo de povoamento que duraria mais de 30 anos, originando o bairro que hoje é chamado de Aeroporto. Quando se mudaram para a chácara Candão os primeiros moradores passaram a chamar o lugar de morro do Pedro Muglia, que era considerado um benemérito, pois, além de vender lotes a um preço e condições satisfatórias, doou muitos outros. É importante ressaltar que muitos moradores que para cá vieram, ocuparam de forma ilegal, isto é, invadiram o local ergueram seus casebres e ali permaneceram mesmo que em condições precárias.

A primeira rua no bairro que estava surgindo foi a rua Pedro Muglia e a segunda rua chamou-se Lica Muglia, digníssima esposa do fundador do bairro. A Vila Cavalhier, tem este nome devida a família que habitava as terras intermediárias de Pedro Múglia e Frederico Napoleão. A estrada passou a ser chamada de Vila Cavalhier em homenagem a tal família.

Morro do Papagaio

Quando o Pedro Muglia passou a comercializar seus terrenos e o bairro foi sendo povoado seu nome também foi sendo mudado pelo próprio povo que habitava o local. Ao invés de continuarem a chamar o local de Morro do Pedro Muglia, passaram a chamar o lugar de Morro do Papagaio, devido a existência de uma grande arvore Papagaio, que havia no local. Nessa época, mal havia trilhas de acesso e as casas eram em sua maioria feitas de sapé e pau -a – pique o que demonstravam as limitações financeiras dos moradores da comunidade em formação.

A única fonte de água disponível para os moradores durante muitos anos, era localizada próximo á ponte e rio, onde os moradores desciam o morro carregando latas de água na cabeça. Nesta fonte de água, trabalhou o Luiz Guimarães que desempenhou a função por 37 anos.

Com o crescimento do comércio local, proporcionado pela sua localização estratégica a cidade de Muriaé, precisou de um Campo de Aviação. Sendo procurado pelas autoridades políticas da época, mais uma vez senhor Pedro Muglia se demonstrou um benemérito doando para a cidade o terreno no topo do Morro do Papagaio, onde foi construído o Campo de Aviação. Nessa mesma época, foi doado também, terreno para construção da escola Maria Antonia Muglia que funcionava no terreno, onde hoje é o CRAS – João Flores.

O Aeroporto

O bairro Aeroporto, em sua evolução, contou com infraestruturas que foram sendo introduzidas gradativas pelos prefeitos a partir da década de 70. Uma das administrações que mais fez para o bairro e uma das primeiras a considerar o Papagaio como um bairro., tinha como prefeito Paulo Fraga, que calçou várias ruas, colocou água encanada e puxou a luz. A primeira vez que os moradores ficaram sabendo que a pista de pouso iria ser asfaltada e que as pessoas que estivessem habitando o lugar teriam de se mudar ocorreu na reunião da Associação de Moradores no dia 31 de março de 1990. Em tal reunião os destinos de milhares de pessoas começaram a ser definidos. Com a palavra o deputado Airtom Torres Neves, comunica que conseguiu as verbas necessárias, junto ao governo estadual do Newtom Cardoso para o asfaltamento do aeroporto e do bairro planalto e que caberia ao prefeito municipal compensar as famílias prejudicadas com tal obra.

“O deputado Airtom Torres Neves obteve a palavra e desculpando-se pelo atraso, disse que conseguiu verbas com o Governador Nilton Cardoso o asfaltamento do campo de aviação, no dia 27 de abril será escolhida a firma que concluirá o serviço. Explicou ainda que o prefeito está em andamento com o projeto para restituir a cada morador prejudicado a sua casa.”

Nesta mesma reunião, o prefeito municipal (Paulo Carvalho) anunciou que as obras se iniciariam em maio e todas as famílias que tivessem casas na área do campo deveriam sair com urgência e que a prefeitura daria lotes e materiais de construção, aos moradores que quisessem ir para o bairro Joannopolis e São Joaquim. Disse ainda, que as casas seriam construídas em sistema de mutirão coma participação de todos. O prefeito com um discurso carregado de dpropostas de esenvolvimento anunciou ainda, a criação de uma escola para atender as crianças de todo o bairro e vizinhança. Nesta mesma, reunião houveram alguns questionamentos por parte de moradores e também do vereador Jair Abreu, que pediu prioridade para o asfaltamento das ruas de acesso ao Aeroporto e a abertura de novas salas de aula na Escola do bairro.

É importante ressaltar que a massa popular que habitava o campo de aviação não estava disposta a deixar o lugar conquistado. Mediante a isto, começou-se a organizar um movimento de resistência, que teve como grande líder o Pe Agostinho da Igreja Católica local. No intuito de mobilizar as lideranças e engajar a comunidade santo Antonio num movimento de solidariedade com os excluídos foram realizadas varias reuniões e manifestações que tinham por objetivo chamar a atenção da opinião publica sobre a forma desumana que estava sendo conduzido o processo de desocupação do campo.

Iniciada a construção do Aeroporto, se deu um grande embate entre forças distintas. De um lado o Pe Agostinho, líder espiritual que tinha na bíblia e na solidariedade a força de sua luta. Por outro lado, Paulo Carvalho o líder político, o astuto e perspicaz prefeito, que tinha interesses políticos na obra do Aeroporto. Em tal embate, saiu perdendo o povo, que teve de se mudar e também o Pe Agostinho que foi para outra cidade, por meio da força do prefeito. Deste embate, temos registros de uma reunião realizada pela Associação de Moradores, onde fica claro o posicionamento das partes do conflito.

“Quanto o asfaltamento do aeroporto ele explicou ele explicou sobre as inverdades que o Pe Agostinho está falando. Ele disse que o aeroporto é propriedade do estado, e indispensável para o desenvolvimento da cidade e que o aeroporto asfaltado é uma fonte muito grande de empregos devido ao surgimento de grandes empresas. (…) Falou sobre sobre a invasão que o pe Agostinho incentiva no aeroporto dizendo que o mesmo não aceitou ajuda da prefeitura para legalizar em outro local a vida dessas pessoas”

O que pôde-se obter como lição, nesse episodio, foi que resistência popular liderada por uma pessoa de grande influencia religiosa não é o suficiente contra o poder político e econômico. O Pe. Agostinho era pároco da Paróquia da Barra e celebrava na Comunidade Santo Antonio. Em suas homilias, o padre sempre pregou o evangelho em favor dos podres. Neste sentido, ele se posicionou do lado dos mais fracos e excluídos, que eram os moradores que habitavam os inúmeros casebres situados na parte que iria ser asfaltada. Pe Agostinho, o homem de Deus, defensor dos humildes foi considerado como o inimigo Nº 01 de Muriaé. Neste embate, sabe-se que Pe Agostinho saiu perdendo pois,foi transferido para outra paróquia no estado do Rio de Janeiro. Quanto ao lado dos mais poderosos e interessados na construção do Aeroporto, levaram adiante seu projeto desenvolvimentista, porém, até hoje as obras ainda não foram concluidas.

Neste processo de transferência de moradores de um bairro para outro, surge o bairro Joannopolis, que é constituído por pessoas que moravam no bairro Aeroporto

Algumas considerações

Não se pode dizer que encerramos o trabalho e, nem que o assunto está esgotado. O mais importante destacar que a história de uma comunidade vem sendo construída na saga de seu povo e na valoração das raízes culturais que permeiam a comunidade do bairro Aeroporto.

Realizar este trabalho permitiu retornar aos primórdios do surgimento do bairro Aeroporto. Na oportunidade, é importante ressaltar e agradecer a colaboração dos entrevistados, da Associação de Moradores e todos os que diretamente ou indiretamente permitiram asa ações dos pesquisadores do grupo JUBONC – Jovens Unidos na Boa Nova de Cristo (Pastoral da Juventude).

Como proposta para trabalhos futuros, cogita-se a possibilidade de continuar a coletar materiais e informações no sentido de construir um acervo histórico e possivelmente algo a publicar posteriormente. È importante destacar que as informações contidas possuem o intuito de fortalecer as raízes e romper os horizontes do desenvolvimento sóciocultural de nosso povo humilde mas trabalhador.

Fonte e foto: Sandro Areal Carrizo

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