Especialistas defendem regulamentação da profissão de constelador familiar

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O Senado promoveu nesta sexta-feira (16) sessão em homenagem à modalidade de terapia alternativa conhecida como “constelação familiar”. Na ocasião, os participantes ressaltaram a importância da expansão da prática terapêutica na prevenção de doenças, promoção da saúde física e emocional, além da resolução de conflitos em várias áreas da vida. Eles defenderam a regulamentação da prática profissional no Brasil e a necessidade de maior esclarecimento sobre a terapia no combate ao preconceito.

A constelação familiar faz parte das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (Pics) que foram institucionalizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) como ferramentas terapêuticas transversais, juntamente com outras práticas como a acupuntura, a homeopatia e a terapia de florais, entre outras. De acordo com o próprio site do SUS, a constelação busca “a prevenção de doenças e a recuperação da saúde com ênfase na escuta acolhedora” e pode estar presente na Rede de Atenção à Saúde, integrada ao modelo convencional de cuidado.




O senador Eduardo Girão (Podemos-CE), autor do requerimento para a homenagem, lembrou que a constelação familiar foi criada pelo teólogo, filósofo e pesquisador alemão Bert Hellinger, como uma técnica terapêutica que leva em consideração conceitos energéticos e fenomenológicos. Ele explicou que a constelação familiar busca valorizar os mecanismos que “promovem reencontro, acalentam a alma, curando as dores e os ressentimentos acumulados”. Apesar de essa prática ter sido iniciada no país há mais de 30 anos, Girão observou que ainda há muito preconceito e resistência por parte da sociedade, o que dificulta a expansão da adoção do método.

— A gente sabe que também existem interesses contrariados com a expansão da constelação familiar. Eu vou dar um exemplo aqui: heranças, casos em que se passam décadas para se resolverem na Justiça conflitos familiares, que, em algumas sessões, em meses, às vezes semanas, se resolvem através da constelação familiar. Então, têm pessoas que naturalmente têm um negócio que muitas vezes, neste mundo materialista que a gente vive, se estende — ou é interessante que se estenda uma demanda dessa, não é? E a constelação dissolve isso. Então, isso naturalmente gera uma resistência muito grande — exemplificou.




Em participação remota diretamente da Alemanha, Sophie Hellinger, viúva de Bert Hellinger, destacou que o fato de o Senado realizar uma sessão com o objetivo de valorizar a efetividade do método é um passo importante para o reconhecimento dos muitos praticantes de constelações no Brasil, onde há um grande interesse por parte da população e, por isso, defendeu a regulamentação da prática.

— E é muito importante, na minha opinião, regular a profissão de constelados para que todos os interessados possam também encontrar a pessoa que lhes possa dar apoio na vida, em seu relacionamento, seu trabalho, para a sua família e para a sua saúde. As constelações familiares não querem substituir nenhuma profissão, mas vejo isso como um instrumento adicional em qualquer profissão. E qualquer pessoa que queira participar da vida de uma forma mais forte, mais poderosa, mais saudável, mais eficaz, o instrumento das constelações familiares as ajuda muito — defendeu.




Para Mimansa Erika Farny, alemã que iniciou os primeiros cursos de constelação familiar no Brasil desde 1989, a técnica só faz sentido se vier acompanhada de atitude para sua aplicação.

— E para mim é importante mencionar que nós podemos dizer sobre as constelações, podemos descrever como é a técnica, mas cuidado: a técnica sozinha não funciona de jeito nenhum, a não ser que a minha atitude seja ampla. Ver o todo, incluir o todo, encontrar o lugar certo são descobertas do Bert e precisam de uma atitude. A atitude é tão importante quanto o conhecer como proceder e para mim é o mais importante que posso compartilhar com vocês — avaliou.




Cornelia Bonenkamp, especialista em pensamento sistêmico complexo, defendeu a prática como uma ferramenta poderosa para conectar o campo informacional e, a partir das contextualizações e histórico de cada pessoa, gerar o reposicionamento em relação aos problemas. Nesse sentido, segundo ela, o constelado é o próprio responsável pela efetividade do método.

— Aprendemos o método; o método é o mais importante, mas depende de em que mão está este método. Importa muito, seja como advogado, seja como juiz, como médico, realmente aprender a estar bem consigo mesmo e a vida, a não julgar os outros, ver que os outros são fruto do contexto, limitados como eu, e nos abrir para o outro e conectar de fato com o outro. É muito importante — ressaltou.




Zaquie Meredith, psicóloga e psicoterapeuta, uma das responsáveis por criar a associação dos consteladores no Brasil, se somou àqueles que reverenciaram o trabalho de Bert Hellinger e disse que a prática é uma filosofia de vida.

— Ela abre a mente da gente, ela abre o coração, ela nos faz respeitar a natureza, a hierarquia, quem veio antes, quem veio depois e nos ensina que a única coisa que o ser humano quer é amar e ser amado e que nós não precisamos gostar de todo mundo e nem de concordar com tudo, mas nós precisamos respeitar todo mundo — afirmou.




Integração

Especialistas e adeptos da prática reforçaram a defesa de que a adoção da constelação familiar não se opõe à ciência “convencional” e pode ser usada de forma complementar em várias áreas.




A psicoterapeuta Irene Cardotti reconheceu que o uso da técnica encurta o trabalho de terapia com seus pacientes, que por outro lado, a torna mais profunda, focada e consciente, os retirando da posição de vítimas e os colocando como protagonistas da sua própria vida.

— Quando eu acolho, eu recebo um cliente, o meu olhar, a minha postura é totalmente diferente. Eu estou acolhendo aquele ser que veio buscar algo, provavelmente com algo de um conflito, ou de uma grande dor, ou de um grande trauma. Mas, com esse paciente ou esse cliente, juntos, nós podemos construir essa história, e ele também poderá olhar incluindo a sua transgeracionalidade, o seu passado, os seus padrões. Sem julgar e sem se vitimar, tudo muda. E os atendimentos começam a fluir de uma outra forma, com uma leveza, com uma profundidade e com muito amor. Então, eu, como psicoterapeuta, não estou ali para conduzi-lo, e, sim, para ajudá-lo a olhar para toda a sua história, todo o seu sistema, com respeito e com inclusão — reconheceu.




Já Sami Storch, juiz do Tribunal de Justiça da Bahia, disse que ao começar a estudar a terapia, ainda em 2006, passou a perceber que os conhecimentos poderiam ser usados como ferramenta para superar os entraves próprios da advocacia e da Justiça. Para ele, antes de aplicar a técnica, parecia que os processos e conflitos eram intermináveis e que a lei estava dissociada da realidade das pessoas.

— Nós vemos uma redução das reincidências em casos com a aplicação das constelações em pessoas apenadas em presídios, em atos infracionais, em execuções penais, em questões trabalhistas. Tribunais regionais do trabalho também estão ensinando as constelações para se enxergar que ordem é essa que às vezes está oculta. Parece que a ordem é só o que está no contrato, mas existem questões que não constam do contrato, que são os relacionamentos dos seres humanos, os vínculos ancestrais de cada um — citou.




Tratamento médico

A médica e psicoterapeuta Dagmar Ramos, umas das defensoras da introdução do método na saúde pública, observou que a constelação familiar permite, inclusive, uma ampliação do ato médico, seja no diagnóstico de doenças ou na percepção da causalidade desses sintomas e das doenças.

— Lá atrás, o próprio Bert Hellinger, desde o início do seu trabalho, já também começou a atender pessoas com sintomas e doenças com resultados incríveis, vários tipos de adoecimento e vários tipos de sintoma, mas no nosso estudo nós aprofundamos aqueles casos que já estavam demonstrando uma eficácia com o método da constelação, ou seja, as infertilidades sem causa orgânica, os quadros de enxaqueca de difícil diagnóstico e difícil tratamento, as insônias, principalmente aquela insônia no meio da noite, os casos de fibromialgia, de doença de Crohn; enfim, várias condições mórbidas, condições de adoecimento para as quais a constelação trazia um alívio, a constelação mostrava a causalidade — exemplificou.

Também nesse sentido, o médico e gastrocirurgião Fernando Freitas, que é presidente do Instituto Brasileiro de Consciência Sistêmica, disse que passou a observar na prática que pacientes com os mesmos problemas, com o mesmo tratamento e que se encontravam no estágio idêntico da doença, acabavam tendo recuperação diferentes. A partir daí ele passou a buscar conhecimentos sobre o efeito do estado emocional e das relações pessoais e familiares em cada caso. Ele disse que é preciso valorizar o poder de cura dentro do próprio doente.

— É muito interessante ver a influência do estado emocional sobre a doença física do cliente. O que tem de “ites” nervosas por lá é impressionante! E era nítido ver, por exemplo, quando surgia a família para fazer visita aos clientes. Tinha alguns que melhoravam bem; outros pioravam — detalhou.

Fonte: Agência Senado

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