Calor extremo vai se estender para além do carnaval e ‘fornalha’ pode persistir até o outono
O Brasil continua enfrentando um verão extremamente quente, com temperaturas acima da média e ondas de calor intensas que podem se estender até o outono.
As condições de alta pressão atmosférica, que têm transformado diversas regiões em verdadeiras fornalhas, devem continuar a afetar o país por um longo período. O fenômeno pode durar até o início do outono, previsto para 20 de março, alertam especialistas.
Segundo o climatologista José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o calor deve seguir intenso no Sudeste, Sul e Centro-Oeste, com algumas áreas como São Paulo e Rio de Janeiro registrando temperaturas muito acima do normal. O verão, que tradicionalmente é a estação chuvosa, tem sido marcado por uma seca severa, especialmente no Rio de Janeiro, onde a precipitação até o dia 24 de fevereiro foi de apenas 7% do esperado para o período. Mesmo com tempestades isoladas, elas são rápidas e não conseguem trazer alívio duradouro, apenas intensificando os riscos de incêndios.
A causa do fenômeno está relacionada ao sistema de alta pressão atmosférica, um anticiclone que, em vez de se manter sobre o Oceano Atlântico, tem se deslocado para o continente, bloqueando a formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), responsável pelas chuvas no Sudeste. Este sistema, que já é conhecido no Brasil, tem se fortalecido com as mudanças climáticas e, atualmente, está aquecendo tanto a terra quanto o mar, com impactos significativos na faixa litorânea, como observado no Rio de Janeiro, onde as temperaturas diárias superam os 35ºC.
Estudos apontam que a duração e a frequência dessas ondas de calor aumentaram nas últimas décadas, passando de cinco dias para até 20 dias consecutivos de calor extremo. Esse fenômeno é alimentado por sistemas atmosféricos globais, como a Oscilação de Madden-Julian (MJO), que intensifica as ondas de calor e desloca o anticiclone para o continente, criando um ciclo vicioso de calor e seca.
Regina Rodrigues, professora de oceanografia e clima da Universidade Federal de Santa Catarina, explica que a intensificação desses fenômenos está diretamente ligada às mudanças climáticas, com o aumento das emissões de gases de efeito estufa, que têm aquecido a atmosfera e potencializado esses bloqueios. A falta de chuva durante a estação chuvosa pode afetar a disponibilidade de água, criando uma preocupação adicional para o abastecimento no segundo semestre.
Portanto, além do calor, o país enfrenta um risco crescente de crises hídricas, com consequências tanto para a população quanto para os ecossistemas, enquanto a alta pressão atmosférica segue firme, mantendo o Brasil em um ciclo prolongado de calor extremo.
Fonte: Guia Muriaé, com informações do Globo