Superação: auxiliar de serviços gerais de dia é estudante de Administração à noite em Muriaé
É com um largo sorriso no rosto que a auxiliar de serviços gerais Arminda Lúcia de Oliveira Silva, 54 anos, conta a sua trajetória. Nascida em Itamuri, distrito de Muriaé, filha de lavadeira e lavrador, ambos analfabetos, cresceu ouvindo o pai dizer que gostaria que com os quatro filhos fosse diferente, que queria que eles soubessem ler e escrever. E foi aí que a menina começou a sua luta por conhecimento.
Quando completou o ensino fundamental, a mãe achou que já era o suficiente. Mas a menina queria ir além. Anos depois, com a ajuda do padre da cidade, Arminda conseguiu convencer a mãe e voltou a estudar.
Aos 19 anos, a cidadezinha já era pequena demais para a jovem. Não havia mais possibilidades de estudos em Itamuri. Foi aí que Arminda decidiu que viria para Muriaé continuar os estudos. Ela lembra que depois de tomada a sua decisão, pedia todos os dias que a mãe a deixasse partir e todos os dias recebia um não como resposta. Certa vez, depois de muita insistência, ela conseguiu a autorização da mãe para seguir em busca do saber. Em Muriaé, a jovem trabalhava como empregada doméstica para pagar seus estudos. Aos 23 anos, formou-se como técnica em contabilidade. No mesmo ano, casou-se.
Mais uma vez o sonho teve que esperar. Arminda queria continuar estudando, cursar uma faculdade, porém, o obstáculo agora seria o ciúme do marido, o pescador Fábio. Então, ela guardou o sonho numa gaveta e viveu como dona de casa até os 47 anos. O marido também não a deixava trabalhar fora.
Mas, com a insistência que lhe é peculiar, Arminda convenceu o pescador, arrumou um emprego e há 5 anos trabalha como auxiliar de serviços gerais no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sudeste de Minas Gerais (IF Sudeste MG). Por ironia do destino, ela tornou-se funcionária de uma escola. Trabalha onde sempre quis estudar. Antes de conseguir o emprego, Arminda prestou o vestibular para o IF Sudeste MG e foi reprovada. “Eu estava tão feliz por estar em uma sala de aula, mas, tão feliz, que não consegui me concentrar na prova. A minha vontade era subir nas mesas e bailar, bailar. Fiquei muito triste por não ser aprovada, mas não perdi a motivação”.
Passando os dias numa escola, a auxiliar de serviços gerais enxergou uma forma de dar mais um passo a caminho da realização de seu sonho. Resolveu fazer o Ensino Médio novamente, matriculou-se no PROEJA (Programa de Educação de Jovens e Adultos) do IF Muriaé. “Competência eu sempre tive, faltava estudar”.
Arminda estudou mesmo contra a vontade do marido. Na verdade, parece que o marido já não era tão contra assim. “No fim da aula, lá estava ele me esperando. Ele me jogava na garupa da bicicleta e a gente seguia para casa”.
Depois de dois anos voltando para casa na garupa da bicicleta do marido, chegou o dia da sua formatura. Arminda lembra com alegria desse dia. “Saí de casa toda arrumada, perguntei ao Fábio se ele ia e ele respondeu que não. Fiquei chateada, mas segui. Na hora em que chamaram meu nome na cerimônia, eu entrei, olhei para o lado e lá estava meu marido, espiando a minha alegria. Fiquei muito feliz!”
Mais preparada, a auxiliar de serviços gerais fez o vestibular, passou, e hoje é aluna do curso de Administração no câmpus Muriaé. Arminda é a primeira da família a cursar uma faculdade e planeja fazer outra faculdade. “Quero fazer Matemática e Sistema de Informações. Não estou estudando para ganhar a vida, estudo simplesmente para aprender, para realizar um sonho. O lugar que eu mais gosto no mundo é a sala de aula. Mesmo que às vezes eu durma, por estar cansada, é lá que eu gosto de ficar”.
A menina negra e pobre, que aos 7 anos ouvia a professora dizer que não gostava de “preto”, afirma que nunca “deu bola” para as dificuldades e preconceitos que sofreu. “O importante é nunca deixar de sonhar e de acreditar no sonho. É o sonho que move a gente”. Já na faculdade, Arminda continua voltando para casa na garupa da bicicleta do marido.
Fonte: IF Sudeste MG