Entenda como guerra entre Rússia e Ucrânia vai afetar a economia do país e sua vida

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A invasão da Rússia à Ucrânia, no leste Europeu, há quase 11 mil quilômetros de distância do Brasil, que começou na madrugada desta quinta-feira (24), deu início à uma guerra que vai afetar diretamente o bolso da população brasileira.

O conflito armado vai provocar aumentos, principalmente nos preços dos combustíveis, gás de cozinha e alimentação, impactando ainda mais nos índices da inflação, que há meses vem derrubando o poder de compra dos brasileiros, em especial dos mais pobres.




Um ponto fundamental é entender que o preço do barril de petróleo subiu 6,1% em apenas um dia e o gás natural já subiu quase 20% na última semana. Se a guerra perdurar ou se aumentarem os boicotes econômicos entre os Estados Unidos e Rússia, esses preços tendem a aumentar ainda mais, ocasionando uma inflação global, segundo o professor de economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Eduardo Costa Pinto.

Para ele, os brasileiros sentirão muito os efeitos dessa guerra, porque o país já está numa situação de inflação alta que pode piorar ainda mais. Costa Pinto elenca alguns dos motivos para preocupação no campo econômico.




Aumento nos preços de petróleo

Uma guerra provoca uma inflação mundial porque demanda um aumento de consumo de combustíveis, que sofrem uma disparada de preços internacionalmente. Em apenas um dia a cotação do preço do barril no mercado internacional, passou a valer US$ 102.




Costa Pinto ressalta que, se por um lado os países produtores de petróleo (a Rússia é um dos maiores do mundo) ganham mais com o aumento no preço do barril, como no caso do Brasil que se tornou um exportador de óleo cru. Por outro lado, aqui por causa da política de preços da Petrobras, a partir da cotação internacional e do valor do dólar, o lucro vai para acionistas da estatal, inclusive estrangeiros.

“O Brasil passou de produtor a exportador, o que provocou um lucro recorde da Petrobras de quase R$ 107 bilhões, e ela vai distribuir R$ 101 bilhões aos seus acionistas. Só que 40% deles são estrangeiros, enquanto o governo federal fica com pouco mais de 37%. Ou seja, o lucro do país vai para o exterior”, diz o economista da UFRJ.




“A Política de Preços Internacionais da Petrobras enriquece alguns poucos e quem paga é o consumidor, que sente o peso dos aumentos dos combustíveis, não apenas nas bombas de postos, mas na alimentação, nas tarifas de gás e energia”.

O quanto essa política de preços da Petrobras é nefasta para a economia do país foi reforçada pelo professor de Ciência Política e Economia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP) William Nozaki, no início deste mês em entrevista à Rede Brasil Atual. Segundo ele, desde que essa política foi adotada, em 2016, o preço da gasolina já subiu mais de 80%. Só no último ano essa elevação foi na ordem de 40%”.




Aumento nos preços do botijão de gás

Assim como os combustíveis, os preços do gás natural sofrem com a paridade internacional.




Desde janeiro de 2019, quando Bolsonaro assumiu o governo, o gás de cozinha subiu em 100,1 %, a gasolina em 116%, %, e o diesel em 95,5%.

A inflação oficial do período, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi de 20,6%, de acordo com dados da Petrobras analisados pela subseção do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) da Federação Única dos Petroleiros (FUP).




Aumento nos preços da energia elétrica

A região Centro-Sul do Brasil, que concentra as principais hidrelétricas, passa pela pior seca dos últimos 91 anos, de acordo com o governo. Isso faz o sistema elétrico acionar muito mais termelétricas a gás, óleo e carvão. Mais caras (especialmente as térmicas a óleo e a carvão), essas usinas funcionam como um “seguro” para garantir o suprimento de energia. O custo desse seguro decorrente do acionamento das térmicas é repassado integralmente aos consumidores de energia elétrica.




O total arrecadado pelo setor elétrico com as bandeiras tarifárias, entre setembro e dezembro de 2021, chegou a R$ 12,9 bilhões. O valor pago pelos consumidores é 4 vezes o do último quadrimestre de 2019, ano anterior à pandemia do coronavírus, e 16 vezes o do mesmo período de 2020, mostrou o Poder 360.

Com a guerra, as tarifas de energia devem aumentar ainda mais, tanto pelo aumento dos custos dos produtos utilizados para manter as termoelétricas como também se a Eletrobras for privatizada como quer o governo federal.




Aumento nos preços dos alimentos

Somente nos últimos doze meses, no grupo Alimentação, os principais reajustes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) foram as carnes (1,32%) e as frutas (3,40%); e os preços do café moído (4,75%), que subiram pelo 11º mês consecutivo, acumulando alta de 56,87% nos últimos 12 meses. Além da cenoura (27,64%), cebola (12,43%), batata-inglesa (9,65%) e tomate (6,21%).

E se os brasileiros já vêm sofrendo com a alta de alimentos, podem ter seu poder de compra nos supermercados diminuído ainda mais, caso a guerra persista.

O setor agrícola vai sentir agora os efeitos das dificuldades de transações comerciais, devido às sanções e barreiras entre os países. ​

O economista da UFRJ explica que além das dificuldades de comercialização os preços dos combustíveis aumentam os custos de transporte das mercadorias, assim como a necessidade de importação de fertilizantes utilizados na agricultura.

Apesar de ser grande produtor de alimentos, o Brasil é altamente dependente da importação desses insumos: 85% são comprados no mercado internacional. A Rússia é o maior provedor de fertilizantes do Brasil, e o anúncio em 02 de fevereiro, de que o país suspendeu até abril as exportações de nitrato de amônio, acendeu um novo alarme em relação ao possível desabastecimento do produto. Algumas restrições já tinham sido anunciadas em novembro do ano passado, com o objetivo de garantir o abastecimento da agricultura local. O Brasil também compra fertilizantes da Ucrânia, China e Lituânia.

“Os preços altos desses produtos vão ser repassados para os custos dos alimentos. E novamente quem vai pagar será a população”, diz Eduardo.

As críticas do professor de economia da UFRJ se baseiam no aumento da dependência de importação para suprir o mercado doméstico, enquanto unidades de fertilizantes instaladas no país permanecem desativadas ou são vendidas pelo governo.

É o caso da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados da Petrobras em Araucária, no Paraná (Fafen-PR), que operava desde 1982 e foi fechada em março de 2020.

Já a Ucrânia vende 17% do milho do mercado mundial. Junto com a Rússia é responsável por 30% do trigo exportado no mundo. E desde quinta-feira (17), quando as tensões aumentaram, o cereal já acumula alta de 17,4%. Isso vai custar caro para o Brasil, que importará 6,5 milhões de toneladas do cereal neste ano, escreveu o colunista da Folha Mauro Zafalon.

Fonte: CUT

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