Empresa assume compromisso de monitorar nível da barragem em Raul Soares
O posicionamento conjunto foi apresentado durante audiência pública na Comissão de Defesa do Consumidor e do Contribuinte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) nesta terça-feira (25/4/23).
De acordo com o gerente regional de Operações da Brookfield, Guilherme Barros de Mendonça, tem sido feito o acompanhamento em tempo real das instalações, com equipe local e manutenção, buscando a segurança da área.
“Trabalhamos com turnos e temos gente o dia inteiro na usina. Elaboramos um plano de ação de emergência de barragens. As placas de sinalização foram distribuídas pela cidade, instalamos um sistema sonoro de sirenes e fizemos simulações de fuga com a população. Também desenvolvemos um sistema que, caso haja problema na barragem, um informativo será enviado para o celular dos moradores”, afirmou.
O gerente relatou também que a barragem está no nível de segurança o mais alto possível e que a Brookfield está dando apoio à estruturação da Defesa Civil de Raul Soares.
De acordo com o diretor jurídico da Elera Renováveis S.A., Lucas Lagrotta de Souza, a empresa nunca teria fugido do diálogo com a população, tendo procurado o prefeito anterior e a Defesa Civil.
“Se trocar a administração, esse trabalho é todo jogado fora. As pessoas vão sendo trocadas e esse conhecimento vai se perdendo. E não adianta conversar com uma pessoa só dos ribeirinhos, que as informações não chegam a vocês. Queremos chegar com nossos planejamentos para a população e melhorar nossa forma de trabalhar no período chuvoso”, pontuou.
Empresas não se comunicam com população ribeirinha
Advogado e consultor do Movimento SOS Enchentes, José Luiz Barbosa chamou a atenção para o fato de que as ações apresentadas durante a reunião pelas empresas estavam sendo pedidas pela população desde 2020 e não era “por acaso” que estariam sendo apresentadas na ALMG nesta terça (25).
“Precisamos de um termo de cooperação técnica, um compromisso formal, assinado pelo município e pela empresa, porque palavras o vento leva. E de um controle efetivo antes do período chuvoso e depois. Preventivo, não reativo. Um controle das cheias e da vazão, para sabermos o nível da água, a que nível está chegando. Não temos esses dados e quando os temos eles não são confiáveis”, ressaltou.
Barbosa criticou a ausência de representantes da Prefeitura na reunião e pediu que a Brookfield melhore a comunicação com a população, tendo em vista que as informações apresentadas não chegaram para a comunidade. Durante toda a reunião, os representantes da população ribeirinha mostraram-se bastante revoltados e pediram a palavra, que foi concedida a eles no final da audiência.
Segundo o advogado do SOS Enchentes, o inquérito civil público aberto em 2020 contra a empresa canadense está paralisado em Governador Valadares (Rio Doce), sendo que na última audiência o Ministério Público “entrou mudo e saiu calado”.
“Não houve qualquer contrapartida, a população ribeirinha sequer foi consultada sobre a instalação da barragem. E antes dela nunca tínhamos tido uma catástrofe tão grande quanto a de 2020. Nunca foi aberto canal de diálogo com a comunidade, excluída de qualquer discussão sobre sua segurança e sobre a preservação do meio ambiente”, afirmou.
Segundo ele, apenas depois que a área urbana foi atingida em 2020 a prefeitura decidiu tomar atitudes quanto às inundações.
“A enchente devastou parte do perímetro urbano, rompeu com a adutora, tivemos ponte destruída, escolas destruídas, racionamento de água, para não falar dos sonhos das pessoas, das casas que foram devastadas. A prefeitura foi omissa e negligente na implantação do empreendimento. E doação de cesta básica não resolve o problema de ninguém”, ressaltou.
Falta mais proximidade com os moradores
Moradora de Raul Soares, Natali Carolina Miranda Barbosa disse aos representantes das empresas que eles não conhecem a cidade, nem a população.
“É a primeira vez que estamos conversando com vocês. Me desculpem, mas quando falam que a empresa movimenta a economia da região, eu não vejo isso. Os empregos são poucos. São bilionárias, não dependem de ninguém para ajudar as pessoas de lá. A gente quer conversar no mesmo nível e ter respostas, que não temos há muitos anos. Conheçam o lugar de onde vocês tiram o dinheiro de vocês”, criticou.
Também moradora do município, Cristina de Assis Bittencourt reforçou que as empresas fizeram reuniões com outras associações de moradores, que não representavam a totalidade dos residentes.
“Nos mandaram calar a boca. Disseram que não tinham obrigação de estar na audiência e conversar conosco. Vocês não são bonzinhos. Queremos a assinatura e compromisso de vocês. Moro no olho do furacão. Eu não durmo. Por pouco em 2020 minha casa não foi levada pelas águas. Ofereço a qualquer um de vocês morar lá de graça de novembro a março”, ironizou.
Deputado pede que nível da represa seja reduzido
Presidente da Comissão e autor do requerimento para a realização da reunião, o deputado Adriano Alvarenga (PP) pediu aos representantes da empresa que a represa fique quatro metros abaixo do nível máximo dela, a partir de novembro, antes da estação chuvosa.
Isso, segundo o parlamentar, para evitar que as chuvas causem o transbordamento das águas. De acordo com Lucas de Souza, isso é possível e pode ser providenciado. “Estamos respaldados para correr, como nunca antes, atrás dos direitos de vocês. Esse é o limite possível, por causa do licenciamento ambiental, e eu acho que pode ajudar bastante”, enfatizou.
Quanto à assinatura de um documento formal, o parlamentar pediu que os representantes das empresas analisem a possibilidade e voltem a se reunir com os moradores até o dia 25 de maio para um posicionamento definitivo. “Vamos criar esse documento junto e assinar”, completou.
Fonte: ALMG