Família culpa postagens de perfil de fofoca por morte de jovem de 20 anos: ‘Achei que ela era forte’
Administradoras confessaram ter postado ofensas à vítima; os celulares passam por perícia
Juliana Adomiram relata o sofrimento de sua irmã Nathalia Adomiram, de 20 anos, que tirou a própria vida na última sexta-feira, 26 de julho. A família, em meio ao luto, denuncia a página de fofocas “Gossipnep”, que opera na cidade de Nepomuceno, no Centro-Oeste de Minas Gerais. Duas das três administradoras do perfil, identificadas pela Polícia Civil, admitiram em depoimento serem responsáveis por mensagens ofensivas direcionadas à vítima.
De acordo com a Polícia Civil, as responsáveis pela página podem ser indiciadas por crimes contra a honra, incluindo calúnia e difamação. No perfil, mensagens pejorativas eram frequentemente replicadas, chamando Nathalia de “barraqueira”, “biscate” e “nojenta”. Uma das publicações chegou a afirmar que a jovem “merecia uma coça”. O cabelo de Nathalia, um ponto de insegurança para ela, também foi alvo dos ataques. “Nathalia Adomiram fica se achando com essa tirinha de cabelo e é barraqueira ainda”, dizia uma das postagens, que foi registrada por um print antes do perfil ser desativado na sexta-feira, 2 de agosto.
Juliana Adomiram descreve que a página de fofocas causava polêmica em Nepomuceno há pelo menos quatro anos, desde sua criação. Os posts anônimos disseminavam boatos e ataques a diversos moradores da cidade. Nathalia confidenciou à irmã que se sentia profundamente afetada pelas ofensas. Em uma troca de mensagens, Nathalia escreveu: “Falaram de mim no Gossip. Todo mundo sabe que estou mal com meu cabelo. Nem aniversário vou fazer, vou embora amanhã”.
No mês de junho deste ano, Nathalia chegou a pedir que as postagens fossem removidas, sem obter sucesso. “Ela era minha irmãzinha, meu tudo. Sempre será minha força para continuar. Sempre pensei que isso só poderia acontecer comigo. Achava que você [Nathalia] era forte, mas não consegui enxergar”, lamentou Juliana em uma homenagem à irmã nas redes sociais.
A Polícia Civil abriu um inquérito e está conduzindo oitivas e avançando na investigação das denúncias. “Após o cumprimento de mandados de busca e apreensão, os aparelhos celulares das investigadas foram apreendidos e passarão por análise pericial para confirmar a origem das mensagens publicadas”, informou a instituição.
O advogado da família da vítima, Marcelo Luiz Adomiram de Souza, está reunindo casos de outros moradores de Nepomuceno que também foram prejudicados pelas postagens do perfil de fofocas. A defesa pretende processar as três administradoras da página por perseguição online – cyberstalking e cyberbullying. “A junção de todas essas vítimas traz uma qualidade melhor na ação penal, uma representação e visibilidade maior. Isso também culmina em uma pena maior”, afirmou Marcelo.
A Polícia Civil de Minas Gerais (PCMG) declarou que o inquérito está em andamento, com a realização de oitivas e outras diligências necessárias para a apuração dos fatos relacionados à página de rede social. As administradoras confessaram ser responsáveis pelas mensagens ofensivas. A investigação está sob a responsabilidade da Delegacia de Polícia Civil de Nepomuceno e mais informações serão divulgadas somente após a conclusão do inquérito policial.
Fonte: Guia Muriaé, com informações do Jornal O Tempo