Militares do Exército Brasileiro vestem meias produzidas por presos de Juiz de Fora
Com 15 anos de experiência na indústria de confecção, o empresário Manoel Jorge Lisboa, de 46 anos de idade, convenceu-se definitivamente das vantagens de empregar presos. Fornecedor de grandes indústrias do ramo por meio da Cooperativa Ebenézer, ele transferiu todas as máquinas de costura para galpões instalados dentro das três unidades prisionais da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) em Juiz de Fora. São 80 presos e presas produzindo meias, roupas e cuecas nas oficinas do Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) e nas penitenciárias Professor Ariosvaldo Campos Pires e José Edson Cavalieri.
Do trabalho dos presos nas máquinas de costura saem, por exemplo, meias que são usadas por militares do Exército Brasileiro e cuecas vendidas em grandes lojas de departamento no pais.
O empresário explica que a distribuição dos postos de trabalho proporciona aos detentos uma continuidade, pois o Ceresp é porta de entrada, abrigando predominantemente presos provisórios, ao passo que a Ariosvaldo Campos Pires é especializada no regime fechado e a Edson Cavalieri é um estabelecimento para o semiaberto, em que se abre a perspectiva para o trabalho externo.
Os presos têm direito a ¾ do salário mínimo e remição de pena, ou seja, para cada três dias trabalhados um a menos de pena, nos termos da Lei de Execução Penal (LEP). Mas os rendimentos podem ser maiores. “Pagamos também por quantidade de peças produzidas. É uma forma de valorizar e estimular o trabalho”, explica Manoel Jorge.
O diretor-geral do Ceresp Juiz de Fora, Alexandre da Cunha Silva, ressalta que os presos solicitam vagas nos galpões de trabalho existentes na unidade, mesmo antes do julgamento. Ele observa que presos provisórios, em regra, não se interessam pelo trabalho, uma vez que nem sequer sabem quanto tempo vão cumprir de pena e muitos têm a expectativa de absolvição.
“Temos a preocupação com a humanização não só da pena, mas da permanência provisória na prisão. A capacitação profissional é uma janela que se abre para os presos fora do crime. Consideramos importante prepararmos os presos para quando deixarem o sistema prisional”, diz Cunha.
Essa é a situação do detento Rodrigo Palhoni, de 45 anos de idade, que começou a trabalhar na fábrica de cuecas antes de ser julgado. Ele tem experiência na área de informática, acredita que esta é uma ótima oportunidade para os detentos que não tem uma profissão. “Eles podem vislumbrar uma possibilidade de conquistar vaga no mercado de trabalho, em virtude da tradição de Juiz de Fora no setor de confecções”, argumenta Rodrigo.
Investimento
A Cooperativa Ebenézer investiu cerca de R$160 mil nas máquinas e galpões. No Ceresp, há três oficinas, com uma área total de 340 metros quadrados. Na Penitenciária Ariosvaldo Campos Pires são quatro galpões que ocupam 404 metros quadrados, enquanto na Edson Cavalieri há um galpão com 62 metros quadrados.
Satisfeito com os resultados do emprego de presos, o empresário Manoel Jorge prepara novos projetos. Ele acaba de obter o reconhecimento oficial de organização da sociedade civil de interesse público (Oscip) para o Grupo Cultural Fênix JF, fundado por ele com o objetivo de atuar na ressocialização de detentos e parentes.
Por meio do Projeto Vivere, o Grupo Fênix JF está cadastrando parentes de presos para participarem de cursos de profissionalização e atividades pedagógicas e esportivas. Os filhos podem se inscrever em aulas de inclusão digital, desenho ou futebol e as mães em cursos de doces, salgados ou customização de roupas, que chegam à Oscip por indicação dos presos.
“Já consegui vagas para ex-detentos em empresas de amigos no ramo da confecção e pretendo buscar mais empresários para investir no sistema prisional. Pretendo atingir mais empreendedores, e tornar Juiz de Fora um grande campo de trabalho com mão de obra de presos”, promete Manoel Jorge.
Fonte: SEDS-MG