Cigarro eletrônico aumenta risco de problemas nos dentes e na gengiva

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Nos últimos anos, o uso de cigarros eletrônicos, popularmente conhecidos como “vapes”, tem se expandido de forma acelerada no Brasil. Entre 2018 e 2023, o aumento foi de 600%, conforme dados do Instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec).

No entanto, com a popularização desses dispositivos, especialmente entre os jovens, surgem cada vez mais estudos revelando os potenciais prejuízos à saúde que eles acarretam, incluindo impactos significativos na saúde bucal.




Uma recente revisão científica conduzida por pesquisadores da Universidade de Oviedo, na Espanha, analisou o impacto dos vapes na saúde bucal de 31.647 pessoas. O estudo concluiu que os usuários desses dispositivos estão mais suscetíveis ao desenvolvimento de cáries, doenças gengivais, inflamações orais e até lesões com potencial maligno. Além disso, o uso desses aparelhos pode agravar condições bucais pré-existentes.

Marcelo Cavenague, presidente da Câmara Técnica de Periodontia do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP), destacou os perigos associados aos cigarros eletrônicos, ressaltando que, apesar de serem relativamente novos no mercado, já se sabe que seus efeitos sobre a boca podem ser até mais prejudiciais do que os do cigarro convencional. “Esses dispositivos não são regulamentados, e não sabemos ao certo o que cada vaporizador contém, o que potencializa os riscos”, alerta Cavenague.




Celso Augusto Lemos Junior, cirurgião-dentista especializado em estomatologia e membro do CROSP, complementa que os estudos indicam um aumento do risco de doenças gengivais, como gengivite e periodontite, além de cáries em regiões mais expostas ao vapor adocicado do dispositivo. “Pesquisas in vitro já demonstraram que o contato com os vapores pode causar danos celulares, elevando o risco de desenvolvimento de lesões que podem evoluir para câncer”, enfatiza o especialista.

Outro fator de risco, segundo Leticia Bezinelli, coordenadora de odontologia do Hospital Israelita Albert Einstein, é a possível diminuição do fluxo salivar entre os usuários de vapes. Esse fenômeno, chamado de xerostomia, ou boca seca, favorece o surgimento de cáries e doenças periodontais, uma vez que a saliva desempenha papel crucial na proteção da saúde bucal. Bezinelli também alerta para o risco de infecções oportunistas, como candidíase, e de irritações na cavidade oral e na garganta.




Uso de cigarros eletrônicos no Brasil

Embora proibidos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2009, os cigarros eletrônicos continuam sendo amplamente comercializados e utilizados no país. O uso entre adolescentes tem crescido, especialmente devido aos sabores atrativos dos vaporizadores. Segundo Cavenague, a facilidade de uso e o apelo dos dispositivos aromatizados acabam levando a um consumo maior do que o dos cigarros tradicionais. Em alguns casos, os níveis de nicotina no sangue dos usuários de vapes podem ser superiores aos dos fumantes convencionais.

Leticia Bezinelli reforça que muitos usuários de vapes não se consideram fumantes, por acreditarem que apenas os cigarros tradicionais oferecem riscos. “O fato de não controlarem a quantidade de uso como ocorre com os maços de cigarro leva a um consumo muitas vezes exacerbado, com alguns pacientes chegando a consumir o equivalente a vários maços por dia sem perceber”, alerta a cirurgiã-dentista.




Problema de saúde pública entre os jovens

Um ponto de preocupação crescente é o aumento do uso de cigarros eletrônicos entre jovens. De acordo com o Covitel 2023, um inquérito telefônico realizado para mapear fatores de risco em tempos de pandemia, um em cada quatro jovens brasileiros, com idades entre 18 e 24 anos, já experimentou um cigarro eletrônico.

Bezinelli destaca que os vapes representam uma ameaça crescente à saúde pública, especialmente entre os jovens, e recomenda que profissionais da saúde alertem a população sobre os riscos. Além disso, ela orienta que os usuários de vapes evitem líquidos aromatizados e busquem ajuda para abandonar o hábito, além de realizarem consultas periódicas ao dentista para monitorar a saúde bucal.




Os especialistas também defendem maior rigor na fiscalização da comercialização de cigarros eletrônicos e na divulgação de informações embasadas cientificamente, visando aumentar a conscientização sobre os riscos associados a esses dispositivos.

Fonte: Guia Muriaé, com informações da Galileu




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